Há
quem diga que ele veio de outras terras, que não nos pertence,
querem-no exilado no seu galicismo original. Mas, cá entre nós,
redatores jurídicos, ele nos cabe tão bem, veste perfeitamente
nossos textos, como pode não ser nosso? Pois bem, a nosso favor
temos autores de renome como Said Ali, Evanildo Bechara, Cláudio
Brandão, entre outros. Partiremos deles, então.
O
gerúndio, segundo nosso Bechara, ocorre quando:
1.
indica uma atividade passageira:
O juiz estava trajando vestes
talares.
2.
indica uma atividade permanente, qualidade essencial, própria das
coisas:
Foi publicada a Medida Provisória
797/2017, liberando (por
meio da qual foram liberados) os saldos das contas do
PIS/Pasep para homens com idade a partir de 65 anos e mulheres a
partir de 62.
Há muito livros contendo (que
contêm) informações equivocadas sobre o gerúndio.
3.
exprime um fato imediato:
Recomendou uma ação mais precisa,
apresentando (e apresentou) soluções.
4.
em sentido causal:
Vendo (porque visse) que estava
sem saída, apelou para atitudes espúrias.
5.
em sentido consecutivo:
A multidão foi tomada por desespero,
atropelando (como consequência atropelavam tudo) o que
encontrava pela frente.
6.
em sentido concessivo:
Vivendo (embora viva) sempre a
mesma rotina, ainda me surpreendo com as novidades dos dias.
7.
em sentido condicional:
Pagando (se pagarmos) todos as
dívidas, teremos finalmente tranquilidade.
8.
em sentido de modo, meio, instrumento.
Ele não poderia mostrar suas
competências musicais senão dedilhando o piano com a
habilidade que lhe é típica.
9.
em sentido temporal:
Visitando (quando visitar) Belo
Horizonte, ligue-me.
Chegando (ao chegar), encontrou
apenas infortúnio.
Em
todos esses exemplos, o gerúndio está bem empregado e oferece
variadas possibilidades semânticas. É justamente na versatilidade
dessa forma nominal que mora o perigo. Podemos cair na tentação de
usá-lo em excesso, o que torna o texto cansativo e, de quebra,
demonstra certa pobreza criativa na elaboração do texto. Assim, um
recurso elegante, que promove a coesão textual, porque mantém o
sentido desejado sem o uso de conjunções, passa a ser sinônimo de
pouco cuidado com a escrita. Então, usemos com parcimônia e estilo,
assim recuperaremos esse pobre mal-afamado.
Mas
a má fama não acaba tão fácil. Por essa razão, retomaremos o
tema na próxima coluna.
Até
a próxima!
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