sexta-feira, 22 de junho de 2018

Clichê

Eis uma época pródiga para toda natureza de clichês: Copa do Mundo. Pululam como formigas famintas. 

A seleção brasileira pode não ter demonstrado ainda a “atuação impecável” que a “voz rouca das ruas” tanto clama. Certo é que “do Oiapoque ao Chuí” todos torcem para que a canarinho conquiste o “caneco”. Esperamos, claro, uma “vitória esmagadora” que compense a falta do lugar-comum em certo jogo trágico. Mas, se sairmos da Rússia com as “mãos abanando”, pelo menos teremos pensado um pouco sobre os clichês: essas expressões sempre faiscantes que aparecem na superfície de nosso pensamento.

Não são condenáveis e cabem bem no discurso rápido do locutor, para o qual não damos muita atenção enquanto sofremos pelo gol que não se concretiza. Também, às vezes, é fonte de economia comunicativa, o entendimento é rápido, telegráfico. Mas aqui entre nós, escribas oficiais, todo cuidado é pouco.

Há variadas listas de clichês na web, nos livros de redação, mas, creia-me, todas incompletas, porque diariamente nascem novas expressões, algumas boas e muitas vazias de sentido, verborrágicas, ou de sentido desgastado. Pensar duas vezes antes de reproduzir no texto a primeira frase feita que lhe veio à mente é uma boa medida. Clichês são como músicas de verão, que grudam em nossa memória e logo nos vemos cantarolando-as despretensiosamente. 

“Pensar fora da caixa”, ver-se como um “ponto fora da curva”, achar que chegou “ao fundo do poço” pode funcionar bem na conversa informal e “conquistar corações e mentes”, mas nos textos oficiais denotam descuido. Mesmo que o clichê pareça formal e bem distante da linguagem coloquial da crônica esportiva, a falta de fluência verbal ainda estará presente. Pode ser que seu leitor o interprete como superficial tanto na escolha vocabular quanto no pensamento, o que é mais sério. 

Assim ficamos combinados (outro clichê): “respire aliviado”, deixe que no campo os jogos nos “tirem o fôlego” e que a seleção “faça por merecer”. Por aqui cumprimos o que “o professor mandou” e “fechamos com chave de ouro” criativa nossos textos.

Até a próxima!