Interessante notar que essas palavras são extraídas de
atividades diversas, normalmente associadas à alguma prática artesã, que, em
outros campos do conhecimento, dão contornos metafóricos mais claros ao que se
deseja dizer. E esse procedimento
enriquece o texto e confere elasticidade ao uso da linguagem. O que se busca
nessa prática é tornar o texto mais claro, mais palpável. É um recurso para
aproximar um conceito muito teórico de um outro mais cotidiano.
Nesse percurso de descoberta de novos usos para
velhas palavras, às vezes por modismos acríticos, nós redatores caímos em
algumas armadilhas semânticas. É o caso do uso muito frequente da palavra calcar no sentido de apoiar-se,
basear-se, fundar-se, amparar, etc. Vejamos o exemplo a seguir extraído de
acórdão.
No que respeita ao
pedido de reintegração, calcado no art. 118 da Lei 8.213/91, a jurisprudência
pacificada por meio da Súmula 378, item I, do TST direciona no seguinte sentido
(...)
Em português o verbo tem o sentido original latino de
comprimir, pisar com os pés, esmagar, moer e, no sentido figurado, de
desprezar, menosprezar, esconder. Assim, poderíamos dizer:
Aquela nação calcava a
frustação com festividades ilusórias.
E o exemplo do acórdão poderia ser reescrito da
seguinte forma:
No que respeita ao
pedido de reintegração, amparado/fundado no art. 118 da Lei 8.213/91, a jurisprudência
pacificada por meio da Súmula 378, item I, do TST direciona no seguinte sentido
(...)
Vejam que o sentido dicionarizado de calcar nem se aproxima do almejado no
texto jurídico do exemplo acima. Poderíamos argumentar que é um sentido novo.
Esse argumento, no entanto, não se sustenta. Veja que, mesmo em sentido
figurado, a palavra ou expressão deve ter uma origem que justifique a expansão
do significado. Significados não são inventados, eles nascem e se desenvolvem
historicamente. Se assim não fosse, estaríamos diariamente construindo nossa
Babel, sem comunicabilidade.
Em As palavras
e as coisas, Foucault afirma que “é sempre sobre um fundo do já começado
que o homem pode pensar o que para ele vale como origem”. Talvez, na língua
como na vida, todos precisemos de um lastro.
Até a próxima!