terça-feira, 11 de julho de 2017

Senão ou se não

Algumas palavras ou expressões tão simples, cotidianas, podem gerar dúvidas. Talvez o senão e o par se não pertençam a esse grupo. Se não, vejamos.

Senão

Quando tem sentido de “de outro modo”, do “contrário”.

Não haja assim, senão haverá consequências severas.

Em frase negativa ou interrogativa, quando com sentido de “a não ser”, “exceto”, “salvo”.

Não há alternativa senão criar meios de controle da corrupção.

Quem poderá auxiliá-lo senão um profissional habilitado?

Nem todos estavam presentes na reunião senão os muito interessados.

Usa-se com o sentido de “mas sim”, “mas também”.

Não somente solucionamos o problema, senão incluímos melhorias no equipamento.

Com esse mesmo sentido, ocorre a expressão senão que, quando há coordenação de duas orações.

Esse raciocínio não está bem fundamentado, senão que contraria preceitos básicos da humanidade.

Também usamos na expressão “não só...senão”, no sentido de “não só...mas também”.

Aqueles homens eram não só generosos, senão honestos.

Se não

É o casamento da conjunção condicional se + não.

Como confiar naquele profissional se não temos nenhum conhecimento de seu histórico profissional?

A tragédia de Mariana se não destruiu toda uma cidade, acarretou prejuízos incalculáveis para aquelas vidas.

Senão vejamos ou se não vejamos?

Napoleão Mendes de Almeida, no Dicionário de Questões Vernáculas, aponta que a expressão “se não vejamos” carrega o sentido de “caso não se acredite” e apresenta o seguinte exemplo:

Nossos tribunais têm decidido em casos análogos, se não vejamos: (…)

O exemplo registrado pelo gramático tem alta ocorrência em jurídicos de conteúdo argumentativo. É o caso de petições, sentenças e acórdão, que trazem na estrutura básica o debate de ideias. Nesses casos, os argumentos que surgem introduzidos pela expressão “se não vejamos”, de maneira geral, acrescem dados que podem confirmar toda uma argumentação. Em termos retóricos, são argumentos cabais, mais fortes. É como se o redator dissesse: “aqui vão argumentos, razões, ainda mais convincentes”.

No entanto, se a expressão tem conteúdo semântico de “caso contrário, vejamos”, devemos usar “senão vejamos”. Essa é uma situação mais rara, entretanto perfeitamente correta.

No primeiro parágrafo dessa coluna, este redator que vos fala quis provocar o leitor. Desejou ele provar que, “se o leitor não acredita que essas expressões podem provocar dúvidas, aí estão argumentos que sugerem o contrário”. Será? Talvez o redator, feita a coluna, tenha concluído que nada é tão complicado assim.


Até a próxima!


















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