terça-feira, 31 de março de 2020

Conversas sobre pronome indefinido


O pronome indefinido deve ser empregado nas situações discursivas em que a 3a pessoa gramatical (de quem se fala – ele, ela, eles e elas) é considerada de um modo vago ou indeterminado.
No cenário dos indefinidos, selecionamos dois deles: cada qualquer para a conversa de hoje. Bechara nos ensina que cada qualquer devem vir acompanhados de substantivo, pronome ou numeral cardinal. Dessa forma, temos:

As diferentes categorias tiveram aumento de 10% cada uma. (correto) *As diferentes categorias tiveram aumento de 10% cada. (errado) Aqueles homens executam qualquer trabalho. (correto)

O indefinido qualquer é por essência impreciso. O sentido que carrega está relacionado à ausência de particularização, em oposição a certo, pronome igualmente indefinido que tem valor particularizante. Já nenhum tem sentido negativo, que se opõe a algum, que tem sentido positivo.

Todos podem arranjar alguma coisa para fazer. 
Aqueles senhores não têm nenhuma vaidade.

Os pares certo/qualquer (particularizante e não particularizante) e algum/nenhum (positivo e negativo) têm natureza semântica diversa. No entanto, temos visto o uso corrente de qualquer na posição do indefinido nenhum, em orações como a seguinte:
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Ele não fez qualquer trabalho. (uso não recomendado)

Talvez para evitar duas negativas, esse emprego soe melhor aos redatores. É natural. Lembremo-nos, entretanto, de que qualquer com função negativa não é unanimidade entre gramáticos. Assim, como escribas oficiais, manter-se no padrão é necessário. Prefira, então:

Ele não fez nenhum trabalho. Ou, ainda,
Ele não fez trabalho algum.

A boa notícia para os que não gostam de duas negativas é que algum, na língua moderna, quando posposto a substantivo, tem força negativa maior que nenhum. Portanto, se o incômodo está no excesso de negação, opte por algum e tudo vai ficar positivamente bom.
Até a próxima!