quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Às vezes as palavras explicam

"O imperdoável pecado da democracia, aos olhos de um número crescente de seus supostos beneficiários, é o seu fracasso em cumprir promessas e sua busca de uma desculpa para isso na fórmula 'Tina' (de 'There Is No Alternative'), significando 'não podemos fazer de outro jeito': o conceito de 'parlamento', afinal, deriva de parler ('falar', 'discorrer') - não de 'conseguir que as coisas sejam feitas'. A atração exercida pelos candidatos ao papel de tiranos ou tiranas consiste em sua promessa de agir - ainda que sua única ação até o momento seja falar e discorrer -, assim como no fato de que o assunto sobre o qual falam e discorrem seja que podem fazer de outra forma, que existe uma alternativa, que eles são a alternativa. Enfim, o poder de sedução dos tiranos e tiranas baseia-se em todas essas promessas e em aspirações que até agora não foram testadas." 
(Zygmunt Bauman, em Estranhos à nossa porta)

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