segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Gerúndio e a vírgula

O gerúndio, embora de fácil aplicação, é atravessado por polêmicas que perpassam desda as altas rodas de gramáticos e estudiosos até os escribas, que com ele lidam diuturnamente. Longe das polêmicas, hoje vamos pensar sobre o uso do gerúndio com os pés fincados em nossos textos sem nos aprofundarmos em terminologias gramaticais.
É muito comum que se diga que “antes de gerúndio sempre se usa vírgula”. Nem sempre é assim, não é uma regra. Mas, às vezes, a vírgula não só é obrigatória como também um excelente recurso de coesão. Elegante, até.
Observemos o texto abaixo, extraído de acórdão.

Recorre a segunda reclamada (...), suscitando ilegitimidade passiva do banco réu e o sobrestamento do feito.

Vamos separar o período em partes. Recorre a segunda reclamada (ou em ordem direta: a segunda reclamada recorre)
Veja que “a reclamada” funciona como sujeito da oração. O texto descreve a adição de duas ações (recorrer e suscitar), ambas vinculadas ao mesmo sujeito. Portanto, sem gerúndio, teríamos o seguinte período:

Recorre a reclamada (...) e suscita ilegitimidade passiva do banco réu e o sobrestamento do feito.

O texto quer transmitir a ideia de que um fato imediato (suscitar) decorre do primeiro (recorrer) e a ele se soma. Esse efeito é muito bem conseguido se usamos o gerúndio. Note que a mera soma, com o conectivo e, não é suficiente para expressar o sentido desejado. No lugar do conectivo entra obrigatoriamente a vírgula. Coesão textual garantida, com um toque de elegância, além, é claro, da eficiência semântica.
Vejamos outro trecho de acórdão.

Todavia, quando desvirtua a correta formação do vínculo empregatício, servindo para a contratação de mão de obra por meio de empresas interpostas para o desempenho de atividade essencial, a terceirização acarreta desequilíbrio entre o capital e o trabalho.

Mais uma vez, temos um único sujeito (a terceirização) que responde pelas ações descritas no texto, assim:
Todavia, quando desvirtua a correta formação do vínculo empregatício e serve para a contratação de mão de obra por meio de empresas interpostas para o desempenho de atividade essencial, a terceirização acarreta desequilíbrio entre o capital e o trabalho.
Um sujeito (a terceirização), dois verbos (desvirtua e serve) e um conectivo (e). Para evitar o “e serve”, o autor lança mão do gerúndio e inclui a vírgula obrigatória.
Poderíamos afirmar, então, que a vírgula deve ser usada antes do gerúndio quando ele equivale a uma oração aditiva. Para isso, o sujeito do gerúndio deve ser o mesmo da oração anterior. No lugar de e + verbo, teremos vírgula + gerúndio. Simples assim.
Pulo do gato. Seguimos, nesse caso, a velha regra de pontuação: se somamos sem o conectivos, usamos obrigatoriamente vírgulas. É assim quando fazemos uma lista. Só paramos as vírgulas quando chegamos no e. Vejam, tudo se conecta.
O gerúndio não para aqui. Semana que vem tem mais.
Até a próxima!

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