Quando
sendo
que
funciona
como locução
conjuntiva (duas palavras usadas como conjunção) com
valor causal, equivalente a uma
vez que, visto
que, porquanto,
porque,
etc, os gramáticos
entendem que se trata do sentido original.
Significa dizer que, se no lugar de sendo
que,
for possível usar qualquer uma dessas locuções,
então a aplicação será
considerada correta.
Observe o
trecho de acórdão abaixo
transcrito com adaptações.
Quando
a parte sucumbente na pretensão objeto da perícia for beneficiária
de justiça gratuita, deve a mesma ficar isenta do pagamento dos
honorários periciais, conforme decidido no acórdão embargado,
sendo
que a
responsabilidade pelo pagamento deve ser imputada à União Federal.
Ao
substituirmos sendo
que por uma locução
conjuntiva causal, o sentido do texto permanece intocado. Veja.
Quando
a parte sucumbente na pretensão objeto da perícia for beneficiária
de justiça gratuita, deve a mesma ficar isenta do pagamento dos
honorários periciais, conforme decidido no acórdão embargado,
visto
que a
responsabilidade pelo pagamento deve ser imputada à União Federal.
Menos
unânime, mas reconhecido e
utilizado por muitos, é
o sendo que
no lugar da conjunção aditiva e.
Analise o trecho
adaptado de um acórdão.
Esclarece-se
também que, nos termos do disposto no art. 896 do CCB, a
responsabilidade solidária decorre de lei ou da vontade das partes,
sendo
que, no presente
caso, tendo
restado provado que as reclamadas pertencem ao mesmo grupo, está
configurado a solidariedade entre as mesmas, em face do disposto no
parágrafo 2º, do art. 2º da CLT.
Parece
claro que o texto está
truncado e é um tanto incômoda a presença de dois
gerúndios na mesma oração: sendo
e tendo.
Essa é uma das
situações em que devemos estar atentos.
Abaixo temos uma
proposta de reescritura.
Esclareça-se
também que, nos termos do disposto no art. 896 do CCB, a
responsabilidade solidária decorre de lei ou da vontade das partes,
e,
no presente caso, uma
vez provado que as
reclamadas pertencem ao mesmo grupo, configura-se
a solidariedade entre
as mesmas, em face do disposto no parágrafo 2º, do art. 2º da CLT.
Veja
que sendo que
não pode ser substituído por nenhuma das locuções conjuntivas
causais (visto que, porquanto, etc), mas
funciona como elemento
de adição entre duas ideias: a) a responsabilidade solidária
decorre de
lei ou da vontade das partes e b) se comprovado que as partes
pertencem ao mesmo grupo, estará configurada a solidariedade. Por
essa razão foi possível substituir sendo
que por e.
No
Guia de Uso do Português (São Paulo, Editora Unesp, 2003, p. 697),
Maria Helena de Moura Neves registra: “É geralmente desnecessário
ou complicador da construção, e, por isso, tradicionalmente não
recomendado o uso da expressão sendo
que na ligação de
orações ou parte de orações”. A observação da autora não é
um assomo de ira contra um
uso tão comum da
expressão, em especial
no campo jurídico. Trata-se de uma preocupação legítima com a
clareza de nossos textos. No último exemplo, observamos como a
clareza e a coesão do texto foram comprometidas.
Então o que fazer?
Devemos
ter em mente que não se trata apenas de certo e errado. Tanto o
sentido tradicional (locução conjuntiva causal) quanto o uso mais
moderno (aditiva) são possíveis na língua. O que não é bom é a
repetição excessiva. Como se trata de uma
expressão cristalizada,
da qual lançamos mão a
todo tempo, precisamos ter atenção se o uso não escapa a esses
dois sentidos ou se não está além da conta. E quando isso ocorrer,
basta substituir pelas locuções equivalentes. Outra saída possível
é alterar a pontuação. Examine
a proposta de reescritura abaixo.
Esclareça-se
também que, nos termos do disposto no art. 896 do CCB, a
responsabilidade solidária decorre de lei ou da vontade das partes.
No presente
caso, foi
provado que as reclamadas pertencem ao mesmo grupo, o
que configura
solidariedade entre as partes,
em face do disposto no parágrafo 2º, do art. 2º da CLT.
Fácil,
não? Nada que uma
releitura atenta não resolva.
Até
a próxima!
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