Em
nossa língua tem sido comum o uso do gerúndio encabeçando orações
com sentido de modo,
meio ou instrumento.
Observem o exemplo abaixo extraído
da Lei Complementar n. 150/2015.
O
salário-hora normal, em caso de empregado mensalista, será obtido
dividindo-se
o salário mensal por 220 (duzentas e vinte) horas, salvo se o
contrato estipular jornada mensal inferior que resulte em divisor
diverso. (art.
2º, § 2º)
No trecho destacado não há vírgula
antes do gerúndio. Isso ocorre porque, nesse caso, o gerúndio tem
papel adverbial, que indica o modo como se dá a ação. Para
perceber mais claramente essa função adverbial, basta observar se é
possível responder à pergunta como?, cuja resposta, no
exemplo, será: dividindo-se o salário mensal por 220
horas. Quando essa pergunta faz sentido, o gerúndio não deve
ser separado por vírgula.
Lembremos daquela lição sobre a
ordem direta na língua portuguesa: sujeito (S) + verbo (V) + objeto
(O) + circunstância/advérbio. Sabemos que, se a circunstância (ou
advérbio) está no fim da oração, a vírgula não será
necessária. Vejam que ótimo: isso vale para o gerúndio quando ele
está nessa função. Viu como a língua não é tão sem lógica
como afirmam os mais indignados!
O pulo do gato está em lembrar-se
também de que, se a circunstância aparece deslocada ou intercalada,
a vírgula será obrigatória porque a ordem SVO+C foi alterada.
Assim, teríamos:
Dividindo-se o salário mensal por
220 (duzentas e vinte) horas, será obtido o salário-hora
normal, em caso de empregado mensalista.
Vamos ao segundo exemplo, também
extraído da Lei Complementar 150/2015.
Em
relação ao empregado responsável por acompanhar o empregador
prestando
serviços em viagem, serão consideradas apenas as horas efetivamente
trabalhadas no período (…),
podendo
ser compensadas as horas extraordinárias em outro dia, observado o
art.
2º. (art. 11)
Façamos a pergunta: acompanhar o
empregador como? Prestando serviços em viagem. Vejam que
prestando serviços em viagem é o modo ou meio como o
empregado acompanha o empregador. Mais uma vez a circunstância
aparece no final, depois do verbo e do objeto, portanto não há
necessidade de vírgula.
É interessante notar que o art. 2º
da LC 150/2015 apresenta outras orações, que se unem para formar um
sentido maior. Ali no final temos um outro gerúndio, que não
responde à pergunta como? Trata-se de situação similar à
discutida na coluna anterior,
em que o gerúndio funciona como aditiva. Situação também em que a
vírgula é obrigatória.
O conselho é: não tema o gerúndio.
Use-o com cuidado e parcimônia. Escrever é construção, quanto
mais cuidadosa a junção das peças menos possibilidades de que o
texto desmorone.
Até a próxima!
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