O
hífen, após a assinatura do Acordo Ortográfico, parece ter se
transformado em espinho na carne. Aqui e ali, nós, os redatores,
ficamos sem saber o que é certo ou errado. Às vezes, até palavras
velhas conhecidas passam a gerar dúvidas.
Um
exemplo disso é a palavra sociocultural, que sempre foi
escrita assim, mesmo antes do Acordo.
Atualmente
ela tem circulado por aí com hífen (sócio-cultural), sem hífen
(sóciocultural), com um esdrúxulo acento. Tudo isso pode ser
resultado da sensação de que tudo que aprendemos foi parar na
imensa lixeira da história. Mas não é bem assim.
Sócio e
socio
Para
início de conversa, precisamos lembrar da existência de duas
palavras: “sócio”, adjetivo ou substantivo, que tem sentido de
membro de uma sociedade ou associação, pessoa que participa de um
negócio; e “socio”, sem acento, elemento de composição, isto
é, prefixo, que exprime a noção de social ou sociedade.
O
substantivo “sócio” pode também se ligar a outra palavra, como
é o caso de “sócio-gerente”. Mas, nesse caso, não se trata de
formação por prefixação. É uma palavra composta, formada por
duas palavras independentes. Algo semelhante a diretor-geral,
coordenador-geral, administrativo-financeiro, etc.
Já
em sociocultural, temos “socio” (prefixo), termo
dependente, e “cultural” (adjetivo), cuja junção se dá de
maneira semelhante a contraindicação, hidroelétrico,
autoestrada, etc.
Como
elemento de composição, “socio” se liga a quase toda palavra
sem necessidade do hífen. Assim, temos:
socioambiental/socioeducativo/sociopolítico
Mas,
se o prefixo “socio”, for sucedido por palavras iniciadas por “h”
ou “o”, deve ligar-se ao seu par por hífen.
Socio-histórico/socio-habitacional/socio-humanitário/socio-organizacional
Acentuação
Quanto
à acentuação, devemos estar atentos ao fato de que, em português,
somente acentuamos graficamente a última, penúltima ou
antepenúltima sílaba. Não é possível acentuar graficamente nada
que venha antes da antepenúltima sílaba. Por essa razão, “socio”
não recebe acento, porque, ao se ligar a outra palavra, não ocupa
os espaços possíveis de acentuação gráfica.
Até
a próxima!
Fontes
básicas:
BECHARA,
Evanildo. A nova ortografia. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.
Nenhum comentário:
Postar um comentário