Talvez
você não saiba, mas semana passada
o Porto F.C. sagrou-se campeão português de futebol. Assim
como aqui, os adeptos de lá também gostam de tripudiar sobre o
rival, como se vê nesse trecho
de uma das inúmeras matérias sobre o feito.
Gonçalo
Paciência e Sérgio Oliveira
levaram
um polvo
de
peluche
para
o relvado,
numa clara alusão ao caso dos emails que envolve os encarnados.
O avançado
colocou o polvo no relvado, pegou
na
bandeirola de campo e
"matou" o bicho,
para gáudio
dos adeptos
presentes. 1
Ao
ler o
texto, certamente
algumas
palavras nos soam estranhas.
Fosse a vitória de um time nacional, no mínimo, algumas expressões
seriam trocadas: peluche/pelúcia;
relvado/gramado; encarnados/vermelhos (ou rubros); avançado/atacante (ou
ponta de lança);
bandeirola de campo/bandeira de escanteio; gáudio/alegria;
adeptos/torcedores.
Já
ali em Moçambique ônibus
é machimbombo;
passeando por Angola um monandengue é uma criança.
Muito
além de diversidades
lexicais, há
estudiosos que
preveem
um distanciamento ainda maior entre o português brasileiro e o
europeu, a ponto de que um dia sejam
línguas diferentes. Isso só o tempo dirá. “O mar da história é
agitado”, já
diria Maiakovski.
Por
enquanto a
comunidade lusófona caminha junto, mas no
alforje
cada país carrega
suas peculiaridades.
As influências de outros povos seguem deixando marcas. A história
se consolida na vida linguageira das gentes.
Aqui
no Brasil somos muitos falantes do português, mas não só. Na
região amazônica há registro do censo de 2010 do IBGE de cerca de
274 dialetos e línguas, distribuídos por 205 etnias. Temos três
localidades brasileiras com mais de um idioma oficial: 1) São Miguel
da Cachoeira, na fronteira com a Colômbia e a Venezuela, em que temos
o português, o nheengatu, o tucano e o baníua; 2) Pomerode, em
Santa Catarina, que além
do português, tem o alemão; e 3) Tucuru, em Mato Grosso do Sul,
onde
o
guarani também
é língua oficial.
No
nordeste de Portugal, fala-se o mirandês, língua oficial da região
ao lado do português.
Pois
bem, a multiplicidade
linguística, no entanto, não provoca incomunicabilidade entre nós.
Tropeçando aqui e ali, apurando o ouvindo e nos deliciando com
nossas diferenças, somos capazes de nos entender. Uma lágrima de
emoção brasileira pode cair ao ouvir um fado triste
na voz
de uma Mariza:
Ó
gente da minha terra
Agora é que eu percebi
Esta tristeza que trago
Foi de vós que a recebi
Agora é que eu percebi
Esta tristeza que trago
Foi de vós que a recebi
Ou
uma adolescente de Moçambique talvez se veja nas frases de Arnaldo
Antunes:
orientupis
orientupis
ameriquítalos luso nipo caboclos
orientupis orientupis
iberibárbaros indo ciganagôs
somos o que somos
inclassificáveis
ameriquítalos luso nipo caboclos
orientupis orientupis
iberibárbaros indo ciganagôs
somos o que somos
inclassificáveis
Tudo
isso para dizer que em 5 de maio celebramos o Dia da Língua
Portuguesa. Os participantes da Comunidade dos Países de Língua
Portuguesa (CPLP) guardaram a data para discutir sobre a nossa
língua, para pensar não sobre o que nos diferencia, mas a respeito
do que nos iguala, nos irmana. Celebremos, portanto, as
idiossincrasias que nos fazem uma “frátria” de falantes do
português, como diria Caetano Veloso:
A
língua é minha pátria
E eu não tenho pátria, tenho mátria
E quero frátria
E eu não tenho pátria, tenho mátria
E quero frátria
Até
a próxima!
Fontes
básicas
PESSOA,
Fernando. Livro do Desassossego. Rio de Janeiro: Companhia das
Letras.
PROENÇA
FILHO, Domicio. Muitas línguas, uma língua: a trajetória do
português brasileiro. Rio de Janeiro: José Olympio, 2017.
*
Frase de Bernardo Soares, heterônimo de Fernando Pessoa, em Livro do
Desassossego.
1
https://www.msn.com/pt-pt/noticias/other/jogadores-do-fc-porto-provocam-benfica-matando-um-polvo/ar-AAwSAgU
acesso em 7/5/2018.
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