Por
aqui já falamos sobre o emprego do infinitivo pessoal e impessoal
algumas vezes. Ainda assim, dúvidas nos chegam, sempre pertinentes.
Não sem razão.
Há
fenômenos da língua que são naturais, encontramos solução sem
esforço. Outros são menos naturais, apreendemos pelo letramento.
Temos, portanto, um conjunto de regras, gramáticas internas ou
escolares, que nos conduzem. No caso do infinitivo, as regras são
fluidas, dissonantes entre gramáticos e isso nos deixa a todos
inseguros. Escreveremos sobre o tema e sempre vai aparecer um aspecto
novo ou não abordado. Por essa razão, hoje vamos responder a uma
dúvida que nos foi apresentada, com lastro na vida real. O texto foi
alterado, claro, mas é basicamente o seguinte:
“O
Excelentíssimo Juiz Diretor do Foro Trabalhista de Algunlugar
indica as servidoras Fulana e Sicrana para atuar (ou atuarem) como
Oficial de Justiça ad hoc”.
(com alterações)
A
dúvida relaciona-se à flexão ou não do verbo “atuar”. Devemos
fazer a concordância com “Fulana e Sicrana” ou basta que
permaneça no infinitivo?
De
acordo com Said Ali, se não se trata de uma locução verbal, “a
escolha da forma infinitiva depende de cogitarmos somente da ação
ou do intuito ou necessidade de pormos em evidência o agente do
verbo”.
No
exemplo, temos um primeiro agente (ou agente principal) que é o
Diretor do Foro. É ele quem pratica uma ação que vai gerar como
desdobramento outra ação. Também parece fácil perceber que serão
as “servidoras Fulana e Sicrana” que atuarão como Oficial ad
hoc. Esses fatos do texto estão claros, ainda com verbo no
infinitivo impessoal. Não há ambiguidade a ser sanada. Para esses
casos, sem ambiguidade ou prejuízo da clareza, a forma impessoal é
suficiente. Eis um fato.
Se
por acaso o redator usar o infinito pessoal (atuarem), não teremos
um erro. Muitos gramáticos, aí incluído Bechara, que é um autor
de prestígio, abonam a forma pessoalizada para esse caso.
Então
vamos ao pulo do gato. Se não há ambiguidade, se o texto está
claro, o infinitivo sempre vai funcionar e não vai gerar dúvidas.
Nesse mar de discordâncias, a forma impessoal traz mais conforto e
paz. Além disso, como já nos ensinou Paul Valéry, “entre duas
palavras, escolha sempre a mais simples”. No nosso caso, “atuar”
é o mais simples.
Até
a próxima!
Fontes
Básicas:
ALI,
M. Said. Gramática Secundária da Língua Portuguesa. São Paulo:
Melhoramentos.
ALMEIDA,
Napoleão Mendes de Almeida. Dicionário de questões vernáculas.
4ª ed. São Paulo: Ática, 2005.
BECHARA,
Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 37ª ed. Rio de
Janeiro: Lucerna, 2005.
CUNHA,
Celso & CINTRA, Lindley. Nova Gramática do Português
Contemporâneo. 5ª ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2008.
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