sexta-feira, 4 de maio de 2018

Infinitivo e a preposição “para”



Por aqui já falamos sobre o emprego do infinitivo pessoal e impessoal algumas vezes. Ainda assim, dúvidas nos chegam, sempre pertinentes. Não sem razão.

Há fenômenos da língua que são naturais, encontramos solução sem esforço. Outros são menos naturais, apreendemos pelo letramento. Temos, portanto, um conjunto de regras, gramáticas internas ou escolares, que nos conduzem. No caso do infinitivo, as regras são fluidas, dissonantes entre gramáticos e isso nos deixa a todos inseguros. Escreveremos sobre o tema e sempre vai aparecer um aspecto novo ou não abordado. Por essa razão, hoje vamos responder a uma dúvida que nos foi apresentada, com lastro na vida real. O texto foi alterado, claro, mas é basicamente o seguinte:

O Excelentíssimo Juiz Diretor do Foro Trabalhista de Algunlugar indica as servidoras Fulana e Sicrana para atuar (ou atuarem) como Oficial de Justiça ad hoc”. (com alterações)
A dúvida relaciona-se à flexão ou não do verbo “atuar”. Devemos fazer a concordância com “Fulana e Sicrana” ou basta que permaneça no infinitivo?

De acordo com Said Ali, se não se trata de uma locução verbal, “a escolha da forma infinitiva depende de cogitarmos somente da ação ou do intuito ou necessidade de pormos em evidência o agente do verbo”.

No exemplo, temos um primeiro agente (ou agente principal) que é o Diretor do Foro. É ele quem pratica uma ação que vai gerar como desdobramento outra ação. Também parece fácil perceber que serão as “servidoras Fulana e Sicrana” que atuarão como Oficial ad hoc. Esses fatos do texto estão claros, ainda com verbo no infinitivo impessoal. Não há ambiguidade a ser sanada. Para esses casos, sem ambiguidade ou prejuízo da clareza, a forma impessoal é suficiente. Eis um fato.

Se por acaso o redator usar o infinito pessoal (atuarem), não teremos um erro. Muitos gramáticos, aí incluído Bechara, que é um autor de prestígio, abonam a forma pessoalizada para esse caso.

Então vamos ao pulo do gato. Se não há ambiguidade, se o texto está claro, o infinitivo sempre vai funcionar e não vai gerar dúvidas. Nesse mar de discordâncias, a forma impessoal traz mais conforto e paz. Além disso, como já nos ensinou Paul Valéry, “entre duas palavras, escolha sempre a mais simples”. No nosso caso, “atuar” é o mais simples.
Até a próxima!


Fontes Básicas:
ALI, M. Said. Gramática Secundária da Língua Portuguesa. São Paulo: Melhoramentos.
ALMEIDA, Napoleão Mendes de Almeida. Dicionário de questões vernáculas. 4ª ed. São Paulo: Ática, 2005.
BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 37ª ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005.
CUNHA, Celso & CINTRA, Lindley. Nova Gramática do Português Contemporâneo. 5ª ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2008.


Nenhum comentário:

Postar um comentário