Eheu,
fugaces labuntur anni
(ai de nós! Como os anos passam depressa!) Horácio, Odes,
II, 14, 1
A
gramática não escapa ao tempo. Divide-o em passado, presente e
futuro – além dos tempos derivados e secundários. Mas o tempo “é
um senhor tão bonito quanto a cara do meu filho”, que acata as
variações dentro de seu curso. Para essas variações, os
estudiosos apresentam o aspecto verbal, em busca das imprecisões do
tempo.
O
aspecto do verbo é a “representação mental que o sujeito falante
faz do processo verbal como duração”, nos ensina Othon Garcia.
Não se restringe ao tempo findado, ao agora ou ao porvir. Escorre
pela linha da vida, passado do passado, mais-que-perfeito; o passado
que poderia ter sido, futuro do pretérito; o momento correndo, em
curso, gerundiando-se. A duração do tempo, quando nos atravessa, é
o aspecto, que se amplia em curvas, idas e vindas. “Compositor de
destinos”.
Os
estudos do discurso já nos dizem que só o presente está entre nós.
A enunciação é sempre agora. Portanto, o presente seria o único
tempo possível. Mas a literatura narra no passado o vivido e
compartilhado; a história nos ensina que o passado organiza o que
nos ocorreu em outro tempo. O futuro. Ah! O futuro “a Deus
pertence”. Nele não tocamos, como Moisés, o futuro é a visão da
terra prometida. Às vezes o tempo é “apenas uma fotografia na
parede/Mas como dói!”.
Então
um dia o futuro chega, mas ele já não está mais lá, só resta o
hoje. É carpe diem, adverte Horácio. Tudo que existe só
está no presente.
Então,
se gramático, histórico, poético, o tempo é o trem em que
conduzimos nosso bem mais precioso: a vida. E o trem está em curso.
Ainda há tempo. “O meu tempo é quando”, nos lembra o Poetinha
(Vinícius de Moraes). E o quando é agora.
O
ano foi bom. Afinal, estamos aqui.
Até
a próxima! Que Kairos nos traga o tempo propício!
Fontes
citadas:
Oração
do tempo, de Caetano Veloso
GARCIA,
Othon M. Comunicação em prosa moderna. 22ed. Rio de Janeiro: FGV,
2002.
Confidência do Itabirano, de Carlos Drummond.
Confidência do Itabirano, de Carlos Drummond.
Poética,
de Vinícius de Moraes.
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