segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Colocação pronominal: próclise

O usuário da língua normalmente não erra na colocação nominal. É tão natural. Os pronomes fluem em nosso linguajar. O problema aparece quando escrevemos. Na dúvida, inventamos malabarismos para tudo parecer mais certo, em vez de seguir a intuição, tão espontânea, que aponta o melhor caminho. Portanto, caro redator, sinta o texto, perceba se não soa estranho, e siga em frente. As regras, para a colocação pronominal, servem como indicadores de tendência, só isso. Se a intuição não for suficiente, aí vão algumas situações em que próclise ocorre com mais frequência.

Próclise

A próclise ocorrerá com mais frequência nos seguintes casos:

1. diante de palavras negativas (não, nunca, jamais, ninguém, nada, etc.)

Jamais o vi tão abatido.

2. em orações iniciadas por pronomes ou advérbios interrogativos

Por que te lembrastes dele agora?

Como me magoastes tanto?

3. com gerúndio regido da preposição em

Em se tratando de vida humana, nada pode ser desconsiderado.

4. diante de certos advérbios (bem, mal, ainda, já, sempre, só, tá,vez, etc.) ou expressões adverbiais

me parecia suficiente tudo que fora dito.

Depois se sentou para descansar.

5. diante do numeral ambos ou de pronomes indefinidos (tudo, todo, outro, alguém, outro, qualquer, etc.)

Alguém me chamou.

Ambos se sentiam culpados.

Todos as mulheres se manifestaram.

Observem, diletos leitores, que entre o que aprendemos na escola e o que de fato ocorre na língua há um abismo. Na Idade Média, a colocação pronominal era uma questão sem conflito para os usuários da língua. Próclise e ênclise se alternavam de forma fluida. Com o passar do tempo, Portugal e Brasil tomaram rumos diversos. Enquanto aqui seguimos o uso mais corrente da próclise, por lá a ênclise tornou-se comum. Ninguém está mais certo nessa história, porque ambos países se distanciaram da língua inicial (se é que existe um início), o que é perfeitamente normal e esperado. Afinal, tudo evolui. Se formos perseguir o início, teremos que chegar à língua adâmica. E nós já aprendemos que “o melhor lugar do mundo é aqui e agora”.

Até a próxima!


Fontes básicas:
BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 37ª ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005.
CUNHA, Celso & CINTRA, Lindley. Nova Gramática do Português Contemporâneo. 5ª ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2008.




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