O
usuário da língua normalmente não erra na colocação nominal. É
tão natural. Os pronomes fluem em nosso linguajar. O problema
aparece quando escrevemos. Na dúvida, inventamos malabarismos para
tudo parecer mais certo, em vez de seguir a intuição, tão
espontânea, que aponta o melhor caminho. Portanto, caro redator,
sinta o texto, perceba se não soa estranho, e siga em frente. As
regras, para a colocação pronominal, servem como indicadores de
tendência, só isso. Se a intuição não for suficiente, aí vão
algumas situações em que próclise ocorre com mais frequência.
Próclise
A
próclise ocorrerá com mais frequência nos seguintes casos:
1.
diante de palavras negativas (não, nunca, jamais, ninguém, nada,
etc.)
Jamais o vi tão abatido.
2.
em orações iniciadas por pronomes ou advérbios interrogativos
Por que te lembrastes dele
agora?
Como
me magoastes tanto?
3.
com gerúndio regido da preposição em
Em se tratando de vida
humana, nada pode ser desconsiderado.
4.
diante de certos advérbios (bem, mal, ainda, já, sempre, só,
tá,vez, etc.) ou expressões adverbiais
Já me parecia suficiente
tudo que fora dito.
Depois
se sentou para descansar.
5.
diante do numeral ambos ou de pronomes indefinidos (tudo, todo,
outro, alguém, outro, qualquer, etc.)
Alguém me chamou.
Ambos
se sentiam culpados.
Todos
as mulheres se manifestaram.
Observem,
diletos leitores, que entre o que aprendemos na escola e o que de
fato ocorre na língua há um abismo. Na Idade Média, a colocação
pronominal era uma questão sem conflito para os usuários da língua.
Próclise e ênclise se alternavam de forma fluida. Com o passar do
tempo, Portugal e Brasil tomaram rumos diversos. Enquanto aqui
seguimos o uso mais corrente da próclise, por lá a ênclise
tornou-se comum. Ninguém está mais certo nessa história, porque
ambos países se distanciaram da língua inicial (se é que existe um
início), o que é perfeitamente normal e esperado. Afinal, tudo
evolui. Se formos perseguir o início, teremos que chegar à língua
adâmica. E nós já aprendemos que “o melhor lugar do mundo é
aqui e agora”.
Até
a próxima!
Fontes
básicas:
BECHARA,
Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 37ª ed. Rio de
Janeiro: Lucerna, 2005.
CUNHA,
Celso & CINTRA, Lindley. Nova Gramática do Português
Contemporâneo. 5ª ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2008.
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